Marcelo lembra o “resistente à ditadura e à amargura” e envia condolências à família
A homenagem a António Borges Coelho ganhou hoje voz nas palavras do Presidente da República, que sublinhou a coragem cívica e a generosidade intelectual do historiador. A homenagem a António Borges Coelho recorda um percurso inteiro dedicado à liberdade, ao ensino e à História feita com rigor e empatia.
Filho do seu tempo e teimosamente à frente dele, Borges Coelho enfrentou a ditadura, passou pela prisão e regressou à sala de aula com a mesma serenidade de quem acredita que a cultura também é um serviço público. Foi professor, ensaísta, poeta e um dos nomes que mais ajudou a iluminar zonas de sombra da nossa memória coletiva.
Na nota divulgada, Marcelo Rebelo de Sousa evocou o “resistente à ditadura e à amargura”, uma fórmula simples que diz muito de quem não deixou que a violência do passado contaminasse a sua vida pública. Em vez disso, Borges Coelho escolheu a paciência do arquivo, a escuta dos documentos e a curiosidade pelos destinos individuais que compõem a grande narrativa do país.
Entre livros sobre a Inquisição, estudos sobre a presença islâmica e crónicas onde o tom é firme mas nunca áspero, o historiador habituou gerações de leitores a uma ideia exigente de cidadania: conhecer para compreender, compreender para não repetir. Muitos dos seus alunos lembram a forma como explicava um parágrafo difícil — devagar, com humor seco, quase como quem acende uma luz.
A notícia da morte foi recebida com pesar no meio académico e cultural. Colegas, antigos estudantes e leitores multiplicaram testemunhos que falam de rigor, de bondade e de uma discreta atenção aos outros — a mesma atenção que atravessa páginas onde o “povo anónimo” não é rodapé, mas protagonista.
Não é por acaso que se fala de legado. Fica a obra publicada, claro, mas fica sobretudo um método: a História como encontro entre fontes e pessoas, entre a disciplina do trabalho e a delicadeza do olhar. É isso que esta homenagem convoca — não um culto do passado, mas um compromisso com a clareza e a liberdade.
No fim, a despedida é simples: agradecer. Agradecer o tempo que passou connosco nas bibliotecas, nas aulas e nos livros; agradecer a coragem com que segurou a palavra “liberdade”; agradecer a forma como nos ensinou a reconhecer o país, com todas as suas rugas, sem desistir dele.
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Fonte oficial:
• Presidência da República Portuguesa